quarta-feira, 10 de abril de 2013

Game of Thrones – 3×02: Dark Wings, Dark Words



Más notícias chegam a todos os cantos do continente.
Spoilers Abaixo:
Este novo episódio de “Game of Thrones” deu continuidade a introdução das tramas deste terceiro ano. Afinal, muita coisa acontece com muita gente em Westeros e um episódio não foi o bastante para trazer todos os velhos personagens de volta. Arya, Bran e Jamie deram as caras por aqui e trouxeram sangue novo como companhia.
O título “Dark Wings, Dark Words” se refere a um conhecimento comum dos Sete Reinos, aquele de que os corvos (o sistema de correio oficial daquela terra), sempre trazem palavras negras junto de suas asas. Afinal, notícia ruim se espalha rápido, né? E Catelyn e Robb estão aí para provar que esse senso comum é amargamente correto. Enfim, a notícia do saque e destruição de Winterfell chegou aos ouvidos dos nortistas. O paradeiro de Bran e Rickon não é conhecido de ninguém, tampouco o de Theon Greyjoy que todos imaginam que seja o culpado pela destruição. Além disso, o patriarca dos Tully se rendeu à idade avançada e agora toda a trupe do Rei do Norte se dirige a Correrio para prestar as últimas homenagens ao pai de Catelyn. Gostei deste momento, onde Michelle Fairley conseguiu representar de maneira tocante o crescente desespero de Catelyn. Aos poucos, a Lady Stark vê toda a sua família definhar. Seu marido foi morto, suas filhas são cativas, seus filhos estão sumidos, e Robb, o único filho que a resta, não consegue sequer olhá-la no rosto. Catelyn Stark é um personagem bem trágico e foi triste ver o quanto a angústia e a incerteza têm tomado conta dela. Importante ainda frisar que o casamento impulsivo de Robb com a enfermeira sedutora não anda agradando seus homens. E, apesar de ter ganhado todas as batalhas, esse exército não parece mais tão coeso.
Outra que não recebeu notícias tão boas, mas que lidou muito bem com o que ouviu foi a jovem futura rainha Margaery. Com a ajuda de sua avó, matriarca dos Tyrell e também conhecida como Rainha dos Espinhos, ela conseguiu tirar de Sansa a verdade sobre a natureza do filhote de cruz credo Joffrey. Munida do conhecimento de que o jovem rei é um tanto quanto sádico, Margaery apelou para fantasia do garoto e mostrou uma propícia fascinação por armas e pela ideia de matar alguma criatura. Cuidado, filhinha, que assim você vai deixar o rei louco! Mas essa não passa de outra prova de que a jovem futura rainha sabe bem o que quer e pode não ser flor que se cheire, com o perdão do trocadilho.
Algo que gostei bastante foi a reintrodução de Bran na história. Os sonhos enigmáticos do jovem Stark continuam, mas agora parece que ele terá alguém para guiá-lo. Jojen e Meera Reed são os novos companheiros de viagem do grupo de Bran e já chegaram avisando sobre os poderes adormecidos que ele possui. Bran é um warg e consegue “vestir a pele” de animais, vendo por seus olhos e até controlando suas ações. Poder que não é exclusivo dele, já que ainda vimos owarg de Mance Rayder usando os olhos de um falcão para descobrir o que havia no Punho dos Primeiros Homens além da Muralha. O fato de inúmeros patrulheiros mortos nas ruínas do lugar levantou as suspeitas do Rei Além da Muralha para cima de Jon Snow. Mas isso é uma história que ficou para semana que vem.
Outra jovem Stark que reapareceu essa semana foi Arya, que, involuntariamente, acabou se juntando a uma trupe de renegados: a Irmandade sem Bandeiras. Confesso que achei os membros da Irmandade bem-vindas adições ao elenco, com o lado fanfarrão, mas sério, de Thoros e o lado debochado e hábil do arqueiro Anguy. Foi outra história que foi apenas introduzida aqui, já que a captura do Cão de Caça pelo grupo é o que realmente vai fazer os acontecimentos engrenarem para a jovem loba. O ex-guarda-costas do Rei já explanou a verdadeira identidade de Arya e ficamos por ver qual vai ser a reação do grupo frente à presença dessa nobre entre eles.
E Theon? O príncipe das Ilhas de Ferro parou numa cela estranha, onde é vítima de terríveis torturas, apesar de responder sem hesitar a todas as perguntas que lhe são feitas. Fica a pergunta de quem são esses captores e, claro, quem é o garoto que diz ter sido enviado pela irmã de Theon. Posso dizer que esta foi uma das histórias que mais me deixou curioso com relação a seus rumos.
Por fim, mas não por menos, a dupla mais mal emparelhada de Westeros está de volta. Brienne e Jaime fizeram a minha alegria neste episódio. É impressionante a quantidade de insultos que o primogênito Lannister consegue desferir sem nunca perder a criatividade. E o melhor era a cara de Brienne, sem nenhuma reação frente aos esforços do leão para baixar sua guarda. Mas então que as mãos de Jaime não se mostraram tão rápidas como sua boca e, apesar de conseguir roubar uma espada, foi subjugado pela habilidade da monstruosa amazona de Tarth. Mas agora que um inimigo em comum surgiu frente aos dois, será que uma amizade inesperada surgirá? Brienne, depois de se apaixonar por Renly, vai amolecer seu coração por Jaime? As casas Lannister e Tarth irão se unir pelo casamento dos dois? Perguntas para um futuro próximo.
Pequenas cenas pareceram meio perdidas esta semana. É uma pena que ainda haja uma necessidade de que alguns personagens apareçam todo episódio, nem que seja pra soltar um espirro e depois sumir de cena. Não acredito que nenhum dos momentos em que Sam ou Tyrion apareceram tenham sido momentos “inúteis”, só acho que foram mal posicionados dentro da narrativa. Como já havia mencionado no caso de Sansa e Robb no episódio de estreia, essas pequenas passagens poderiam ser agrupadas com outras para trazer um episódio mais “robusto” para cada narrativa. Por exemplo, por que a chegada dos nortenhos em Harrenhal não foi mostrada essa semana em vez de ter sido jogada no episódio passado, onde ficou “flutuando”? Esse tipo de fluidez foi o que mais me fez falta na temporada passada e apesar dos casos pontuais até agora, acho que diminuiu bastante com a chegada do terceiro ano.
Entretanto, novamente, meu maior incômodo foi com a direção do episódio. Apesar de ter acertado o tom em cenas como o sonho de Bran e seu primeiro encontro com os Reed, o diretor Daniel Minahan jogou fora oportunidades como a do interrogatório de Sansa pelas Tyrell e no próprio duelo entre Jaime e Brienne. Cenas que podiam ser fontes de incrível tensão, mas não saíram do quadrado.
Então, deixando mais um episódio de introduções para trás, a série agora pode engatar sua segunda marcha e acelerar os acontecimentos. As peças estão no lugar, agora é só saber quem vai cair e quem vai ficar de pé no meio de tantas jogadas.
Em Tempo de Ausências do Episódio: Desta vez não tivemos acontecimentos com a khaleesi e nem com a turma do Stannis.
Em Tempo de Nudez: E aí? As garotas fãs do seriado piraram com a cena do Joffrey sem camisa?
Em Tempo de Fala do Episódio: “Renly preferia garotinhas de cabelos encaracolados como Loras Tyrell. Você é masculina demais pra ele. -Jaime Lannister

RETIRADO DE SÉRIES MANIACOS

Matador de anjos

Matador de anjos








 
“Aqueles que sonham acordados têm consciência de mil coisas que escapam aos que apenas sonham adormecidos.”
Edgar Allan Poe


                        O delegado colocou água no copo e entregou a David, aquilo parecia um gesto de cortesia, mas era mais um sinal de intimidação policial, de poder, coisa que a policia  gosta de fazer. David olhou para o delegado, era alto magro, um porte atlético, talvez cinquenta anos, mas aparentava menos idade, talvez quarenta, terno cinza, gravata preta, elegante e calmo, passaria por um homem bonito se não fosse à cicatriz de queimadura no lado esquerdo da face que havia consumido a sua orelha, no local pele enrugada e um buraco, por onde David achou que poderia ainda ouvir, só de ver aquilo David teve náuseas.
                        David tomou a água, afinal precisava mesmo esfriar, as coisas estavam quentes, sua costela direita ainda doía, bateu no retrovisor na corrida, delegado sentou a sua frente, assim ele parecia distinto e elegante, não dava para ver a queimadura, de lado parecia um monstro, são nossos ângulos, David pensou no seu próprio ângulo bom, seria o perfil direito, alto louro de olhos claros, tinha uma aparência sedutora, definitivamente era o seu perfil esquerdo, pensou David.
                        -Você pode contar tudo do começo David, sem pressa, vidas foram perdidas, precisamos saber todos os detalhes e – o delegado deu uma risada sínica e acrescentou - você há de convir que essa sua narrativa é no mino estranha – disse depois de tomar o seu próprio copo de água.
                        -Não sei se lembro de todos os detalhes, eu disse ao professor que ninguém acreditaria nessa história absurda– disse David.
                        -Está bem – o delegado falava baixo, um homem cordial com uma face difícil de olhar, alguma coisa naquele olhar e naquela queimadura deixava David nervoso – conte o que sabe, pode caprichar nos detalhes, eu gosto de detalhes.
                        David abaixou a cabeça fez um esforço para lembrar, sabia que aquele momento chegaria, ficou em duvida qual seria a verdade a qual se referia o professor. Antes que ele começassem a falar o delegado fez um gesto para David esperar, seu telefone tocou.
                        -Um minuto David – disse o delegado e foi para o canto da sala – quero o nome de todos os estudantes e,Santana, localize o tal professor Martim, ele parece ser a chave desta carnificina. - ele voltou, desligou o telefone e fez um novo gesto com a mão, dessa vez para que David continuasse.
                        'Noite de Lua cheia, estávamos na cantina da universidade no centro biomédico, ciências médicas do curso básico, é um lugar mórbido, fica nos fundos do campus, um conjunto de prédios de construção antiga, com aqueles tijolinhos laranja e telha colonial, por fora um lixo, mas por dentro há melhor tecnologia que uma universidade pode oferecer, os melhores cientista desses pais.
                        Eu, Paulo, Carla e Ana, quatro amigos inseparáveis, começamos a faculdade juntos, passamos por tudo, provas de anatomia, histologia, bioquímica, sempre juntos é mais fácil fazer um grupo de sua própria espécie, que se interessa pela mesma coisa, isso acontece quando somos calouros e perdura por toda a faculdade. 
                        Quem olhasse de longe poderia que éramos namorados ,mas não,apenas dois casais de amigos, apesar do numero par sugerir de pessoas sempre sugerir namorados, por exemplo: Paulo era gay, não era um gay chato militante e nem levantava bandeira homossexual, ficava quieto no canto dele, tinha os seus namorados e sua preferência na hora do sexo, mas no resto era como qualquer um de nós.
                         Ana namorava um industrial, um cara rico, bonito e bacana, uma sorte grande, só que Paulo, mesmo muito discreto me confidenciou que achava que ele era gay, sabe lá um tipo de linguagem corporal entre eles, além de encontrar o cara uma vez em boate especializada.
 A  Carla doida pelo estudo, casa com a ciência, protótipo de uma mulher sem sexo, mesmo sendo  sensual e amante da tatuagens, ficamos juntos no verão passado, ela quis um namoro, mas ninguém consegue namorar uma máquina de estudo, mesmo meio apaixonado, ela me fazia de homem objeto, fazendo sexo quando queria.
                        Falei de todos, tenho que falar de mim, sou atleta, passei na faculdade de medicina por acidente, meu pai queria que eu fosse médico, eu pessoalmente sou um vagabundo, não queria fazer nada na vida.Nem precisava sou o sete filho, antes tive seis irmãs, toda me adoram, são ricas, fiz o vestibular  por fazer, agora que estou e vou em frente, me divirto, saio com as garotas, já escolhi a carreira de cirurgião, mais pratico.A maioria dos meus amigos diz que aprendo fácil, o que irrita meus colegas, minhas notas são as mais altas da turma, mesmo Carla  com a sua dedicação nunca me alcançou.
                        A verdade é que ontem estávamos lá para fazer uma travessura, nisso todos eram iguais, depois de umas cervejas, ficávamos semelhantes ao extremo, jovens irresponsáveis a procura de aventura e sexo. Paulo conseguiu a chave do laboratório 4, não me pergunte como. 
                        O laboratório quatro é o laboratório do Dr. Martim, o mais conceituado cientista da faculdade, PhD em bioquímica, há alguns anos o sonho de todo aluno é ter seu nome em um trabalho do professor.
                        Martim era um cara metódico, fazia raiva a sua pontualidade, todo o dia ele ficava no laboratório até as vinte e duas horas, saia para tomar um café, fumava um cigarro e volta ao laboratório, ficava até a meia noite quando do ia para casa. O homem não tinha mulher nem filhos, um dinossauro dedicado à ciência. Eu nunca seria assim, posso até acreditar que precisamos de homens assim como Dr. Martim, com também o mundo precisa do refrigerante, da cerveja, café e do cigarro, mas nunca dedicaria a minha vida a ciência dessa maneira, para algumas pessoas é uma espécie de religião.
                        Sei que está na moda, curtir a vida e deixar tudo pra lá, a vida é curta, o que Friedrich Wilhelm Nietzsch chamria de espírito niilista safado .Acho isso um saco, como se curtir a vida fosse ficar doidão e ir para festas, nem sempre é fácil assim, as vezes queremos ser importantes, ouvir a verdade, falar a verdade, não é isso?”– o delegado concordou com a cabeça e el continuou – “ E ainda existe a arte, boa musica e, para os que acreditam a religião, mas para algumas pessoas só existe a ciência, muitos cientista não usam mais o pensamento, para eles só existe o método cientifico e pronto, professor Martim usa o método cientifico para viver.
                        Sei que ele fuma e come mais que o normal, o que a geração saúde chamaria de violação de conduta saudável, mas isso são seus pequenos pecados, o que não é nada um homem de tanta disciplina. Sem julgar os outros, principalmente não julgando o professor, a vida não tem uma solução universal, então cada um tenha a sua”                 
                        O delegado interrompeu.
                        -Volte aos fatos, apesar de concordar com o senhor e achar a conversa bem interessante, eu não tenho alternativa a não ser chamar atenção para os fatos, peço que me desculpe, vejo que é uma pessoa inteligente e madura, mas, por gentileza, volte à narrativa dos fatos.
                        “Saindo da filosofia e voltando a narrativa dos fatos levei um monte de cervejas para dentro do campus, estávamos observando o movimento do laboratório quatro da cantina, bebendo e comendo queijo espetado no palito. Olhei para Carla, estava elegante, tomava cerveja e lia o manual de histologia, Paulo estava com um binóculo e Ana falava com alguém pelo seu celular, eu odeio celular, pessoas falam mais com gente que estava longe do que com quem esta perto, o celular na vida de algumas pessoas tem prioridade em relação ao ser humano de carne e osso.
                        Naquele momento eu fazia uma coisa mais interessante, olhava as pernas de Carla, estou sendo sincera, a única coisa para fazer ali naquele momento, além de tomar cerveja e comer aquele queijo de minas era admirar as belas pernas de Carla.
                        As vinte e duas o professor Martim saiu para fumar, posso descreveu como um homem baixo e gordo, tinha cabelos brancos e usava um óculos frouxo que escorregavam ate a ponta do nariz. Está enganado quem acha que ele tem um ar bonachão e que todo gordo é um comediante, que era o professor bonzinho, Professor Martim? Quando professor foi o mais enérgico que aquela universidade já teve, com o maior índice de reprovação até hoje registrado na universidade, nesse instante Carla levantou os olhos do livro e disse.
                        -Chegou o gênio. - disse sarcástica, a mãe de Carla foi médica,  aluna de Martim e admiradora, o professor recusou o seu pedido para inclusão em sua equipe, reprovou a mãe de Carla em uma prova de acesso a equipe, disse que ela era medíocre, isso destruiu a pobre mulher que se jogou do vão principal da ponte, Carla que é filha já tinha perdido  o pai em um acidente de carro  ficou sozinha, criada pela avó, acho delegado que nutria um ódio feroz contra o professor Martim.
                        Análise da maioria é que o professor estava intranquilo.
                        -Acho que ele está mais agitado hoje – disse Ana olhando para o alto – deve ser essa lua cheia, ela me deixa nervosa.
                        Se as mulheres têm sexto sentido, mas Ana tem um sétimo sentido, organizada, aluna mediana, sempre tinha notas confortáveis, única dessa turma com  carro, comprado com suas economias, pai e mão presentes e atuantes na educação, isso ela gostava de dizer, criada com pouco luxo, seu pai foi professor de letras da universidade e a mãe trilhou o difícil caminho da dona de casa, mas tanto Ana como o Irmão Mauro, deram certo na vida, Mauro era o mais jovem promotor do estado e Ana a futura médica da família.Em uma família assim sempre tem um podre, pois é, ninguém é perfeito, seu segredo perverso, sua única mancha era o vicio em maconha.
                        Paulo olhava o movimento do Dr. Martim como se fosse um investigador de policia.
                        -Está suando – ele fez um gesto com a cabeça – pessoas assim estão preocupadas com alguma coisa.
                        Meia noite o professor saiu, eu já tinha bebido demais e comecei a  achar que aquela história tava ficando entediante, olhei novamente para as pernas de Carla, sua tatuagem, um homenagem a mãe, a face da mãe tatuada na perna o símbolo do iron madem nas costas, caveiras por todo o corpo, nua era um quadro pintado a mão, para ser sincero, quase não parecia estar nua, vestida com aquelas tatuagens, nuca a vi totalmente nua, as figuras que marcavam o seu corpo me assustavam.
                        -Vamos – disse Ana.
                        -Se formos pegos seremos expulsos – disse Paulo, uma forma de fazer pressão, ele sabia que não desistiríamos, a vida para cada um de nós não tinha significação futura, a vida era vivida no presente, só as pessoas velhas pensam no futuro, o jovem é uma tradução inexorável do agora.
                        Carla tomou a iniciativa e correu para porta, entusiasta do cinema de qualidade disse:
                        -Viver com medo é viver pela metade – disse Carla fazendo a citação do filme australiano Vem Dançar Comigo, correu para a porta, a chave magnética trazida por Paulo serviu perfeitamente.
                        O laboratório era luxuoso, tinha os melhores equipamentos que já vi na vida, seis computadores , um microscópio eletrônico, vários equipamentos para uma bioquímica de ponta, além de parecer por dentro maior que por fora.
                        -Que sem graça – disse Ana – é só um laboratório, nem uma pesquisa do médico monstro, chato mesmo, acho que devemos ir embora, estamos nos arriscando por nada – disse mexendo nos papéis sobre a mesa.
                        Ouvimos um barulho que parece um rugido.
                        -Você está de brincadeira – disse Paulo – ele tem um cachorro aqui dentro, mas aonde? - ao falar olhava em todas as direções.
                        Novamente ouvimos o rugido, agora mais forte, depois uma pancada contra o metal, depois outra, Carla apontou para o chão.
                        -Está aqui embaixo – disse – tem algum animal preso embaixo dos nossos pés - disse sorrindo –isso está ficando interessante, será que ele faz pesquisa com animais e pelo barulho ou pela força não é um cachorro.
                        Ana lia a pesquisa sobre a mesa e disse.
                        -É uma pesquisa sobre envelhecimento, parece que o animal ai embaixo dura mais que o ser humano, suas células parecem ter um código genético feito para durar duzentos anos.
                        -Quantos anos? - perguntou Carla.
                        -Duzentos – repetiu Ana.
                        -Só se uma tartaruga aprendeu a latir – disse Paulo – porque cachorro, lobo ou urso vive menos que isso.
                        Todo chão era coberto com um carpete, Olhei para o carpete e olhei para Paulo.
                        -Gente ai não, isso é depredar patrimônio publico federal – disse Ana.
                        -Quem tá na chuva tem que se molhar – disse Paulo puxando o carpete, para sua surpresa ele descolou de uma vez, mostrando um chão inteiramente feito de vidro o que dava visibilidade integral para uma espécie de porão onde estava a criatura.
                        -Uau! – foi Paulo que gritou – valeu a pena roubar a chave.
                        Nesse momento eu fiquei paralisado, a criatura tinha dois metros de altura no mínimo, prezas e orelha de lobo, mas a face parecia ter um tipo de expressão humana, o corpo era coberto de pelos, se o senhor não viu em algum filme delegado posso lhe dizer aquele animal foi à figura mais parecida com um lobisomem que eu já vi na vida.”.
                        O delegado esboçou um sorriso.
                        -Sei que é Maluco, mas o professor pode confirmar tudo.
                        -Continue a sua narrativa David – disse o delegado.
                        “Ana ficou de cócoras bem próximo da cabeça do lobisomem, foi extraordinário ver a criatura de olhos vermelhos nos pés de Ana, assim ela pareceu uma deusa, por um instante ele ficou parado, quieto, como se observando Ana. Delegado, ficamos parados em silencio, inclusive a criatura por eternos trinta segundos, todos nós estávamos fascinados por aquela figura animal, mas Ana ficou maravilhada e esticou a mão para tocar o vidro, assustado o animal deu um pulo forte e vigoroso, parecia ter usado toda a sua força, o impacto no vidro foi tremendo, parecia que fez consciente, tentando acertar Ana, que desequilibrou caiu e bateu a cabeça em alguma coisa, uma espécie de alavanca.
                        Preocupados com ela, pois a pancada a deixou desacordada, não percebemos que a alavanca abria a porta de vidro, devagar, tentamos puxar a alavanca de volta, mas a pancada que a alavanca recebeu entortou e não conseguíamos fechar, horrorizados percebemos que a besta de alguma forma pensava, ela foi para o canto esperar a porta de vidro abrir, que tipo de bicho pode conjugar comportamentos calculistas com violência extrema, até aquele momento achei que só o homo sapiens conseguia, de alguma forma a criatura  agia dessa maneira, ela já sabia que o vidro abria lentamente, consciente queria nos pegar, em minutos estaríamos mortos.
                        -Vamos embora – gritava Paulo, pois a criatura já havia passado o braço pela pequena abertura, logo estaria livre.
                        -Não podemos deixar Ana aqui – disse Carla ao mesmo tempo tentava levantar Ana que estava desacordada – aquele animal vai fazer Ana em pedaços.
                        -Não temos escolha – disse, sinceramente, não conseguiríamos escapar e salvar Ana, deixando ela para trás vamos atrasar a criatura.
                        Um dilema moral, eu sei, mas quem pode ser herói com uma fera daquelas, só nos quadrinhos é que existem heróis, aqui na vida real herói bom é herói morto, com dor no coração deixamos Ana, eu escutei o lobisomem estraçalhando Ana com suas garras, mas ninguém teve coragem de olhar para trás.”
                        David limpou as lagrimas e o delegado falou.
                        -Não achamos nada dela inteiro apenas pedaços, no instituto medico legal recebeu o corpo e ficou estarrecido, ninguém viu isso, gente com mais de vinte anos de experiência, mas continue.
                        “Saímos correndo pela porta da frente, duas da manhã, não havia ninguém no campus, chorávamos em uma mistura de emoção e medo, corria em direção à saída, o portão principal, não olhamos para trás, como a vida sempre para frente.
                        A criatura era mais rápida, parou na frente de Carla, como disse antes a criatura parecia ter um tipo de inteligência, olhou para a tatuagem no ombro, as lagrimas escorriam no rosto de Carla e desfazia a maquiagem, ela estava a poucos segundo da morte,Paulo e eu estávamos escondidos, com medo nada podíamos fazer.
                        O animal enfiou de uma vez a garra no ombro esmagando o braço de Carla, depois partiu a sua cabeça, como se fosse de isopor, a garra gigante cruzou o corpo da ela Carla de forma transversal partindo o que sobrou em três pedaços.
                         Paulo chorava compulsivamente, gritava algumas coisas sobre o professor que eu não entendia, então sai de perto dele com medo que a fera ouvisse aquela choradeira,
A criatura ouviu o barulho e, com dois saltos alcançou Paulo, mordeu o seu pescoço até a sua cabeça deslocasse do corpo e rolasse pela grama.
                        Certamente eu seria o próximo, virou o troco gigante na minha direção, veloz, jamais vi animal algum correr daquele jeito, gelado de medo fiquei parado.
                        Ela ficou bem na minha frente, pude sentir o seu hálito, seu cheiro podre, a sua dor, uma raiva que não poderia definir aqui, raiva do ser humano, raiva da natureza.
                        Estava de olhos fechados esperando a morte quando escutei o tiro – à bala, provavelmente de prata, acertou o animal, depois que a criatura caiu por atrás dele o professor segurava um rifle, e é isso o meu relato termina ai.”
                        -Onde está esse animal? - perguntou o delegado.
                        David parecia indeciso.
                        -Entrei em choque, acordei no hospital – disse olhando para o delegado com olhos firme de sinceridade.
                        -Está bem, vou liberar você, aguardaremos a chegada do professor ele tem que confirmar a sua historia e temos que achar essa criatura.
                        O professor chegou minutos depois, estava suado como sempre, seu óculo, usava um terno e suspensórios alem de uma gravata borboleta só visto por David em filmes.
                        -Esse garoto está bem – disse o professor.
                        O delegado explicou que precisava do depoimento e que depois David voltaria para o hospital. Mas o próprio David se adiantou e disse que estava bem, agradeceu ao professor que confirmou toda a história, um funcionário do governo estava junto, pediram descrição ao delegado.
                        -Certo – o telefone do delegado tocou, era o secretário de segurança, delegado parecia não gostar das palavras, desligou o telefone e disse – vocês estão livres para ir, o caso agora é da policia federal.
                        Depois que saíram o delegado começou a rir pensando na história do lobisomem quando Dalton um dos policiais civis entrou e lhe entregou o papel.
                        -E a cavalaria está sempre atrasada – disse o delegado sarcástico, jogando os papéis na mesa já sem interesse.
                        O policial um homem careca barrigudo na faixa dos quarenta anos disse.
                        -Dê uma olhada na lista de alunos.
                        -Pra que?
                        - Tem nenhum David na lista, mas a foto que aparece é de outra pessoa.
                        Quando o delegado levantou para ver melhor a lista, homens armados encapuzado chegaram atirando, um tiro de fuzil acertou a região frontal do delegado e outro acertou o policial na nuca, todos o resto da delegacia foi morta.
                        Um dos encapuzados tirou o capuz quando o professor entrou.
                        -Porque demorou tanto? - perguntou o professor.
                        -Você acha que é fácil conseguir liberação para um merda dessas, isso quase chegou ao nível da presidência – ele era alto e tinha um bigode – quem deu a chave para os garotos?
                        - Eu mesmo confiei demais no garoto, sai com ele duas vezes, não conseguia resistir, sabe como são esses garotos bonitos, danado roubou a minha chave reserva – parece que o professor não era tão dedicado à ciência como nosso falso David pensava, tinha um relacionamento escondido com Paulo, foi o que pensou o homem do governo que chegou logo depois da ação do esquadrão especial, ele havia monitorizado todo o interrogatório, lamentava pela morte do delegado, mas era por um bem maior: a ciência.
                        -Agora estão todos mortos – disse o representando do governo – se você tem alguma consciência, o que eu duvido, a culpa é sua – o Homem olhou o delegado morto – era um bom policial, o garoto contou a verdade, nessas horas a verdade é tão absurda que prendeu a atenção e deu tempo de conseguirmos autorização para essa – ele fez um gesto de desprezo – essa coisa, causada pelos seus namoricos, eu espero que tenha valido a pena. Aliás, namoricos proibidos, vai ter que segurar a sua libido até o final da primeira etapa da pesquisa. Outra coisa, eu  espero que tenha levado o menino para a jaula e avisado a ele qualquer deslize as queridas irmãs, todas as seis, morrem, assim como os seus sobrinhos – o homem, de cabelos brancos, terno preto caro e face carcomida esfregou as mãos – o menino é inteligente, contou uma historia e tanto aqui. O corpo do verdadeiro David foi incinerado, lidaremos com a família dele, reforçaremos a segurança.
                        O professor estava de cabeça baixa, pensou.
                        'Se não fosse os meus conhecimentos agora estaria morto. Mas a pesquisa deve continuar.”
FIM

autor

JJ DE SOUZA

LICENCIADO, TAMBÉM POSTADO RL
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=118155

quarta-feira, 26 de setembro de 2012


 amor surpreende:suddenly you're in Love

 O  amor surpreende:suddenly you're in Love
(leia o conto Ouvindo a musica)

Não sei por que voltei aquele apartamento, acho que foi por saudade, apenas para não perder as lembranças. Abri a porta com dificuldade, à fechadura nunca funcionou direito, o fedor de mofo, acabei tossindo um pouco e esfregando os olhos, algumas coisas nossas ainda estavam ali: o velho sofá de dois lugares, alguns brinquedos espalhados. As paredes encardidas, tudo dentro da minha cabeça estava tão limpo, branco, com os dentes e face dela no leito de morte. o Amor  me tirou de um abismo,ganhei um nome, filhos e um paixão inesquecível, mesmo que agora tudo fosse lembranças.
Peguei a cabeça da boneca no chão, lembrei tão nítido como estava vivo e respirando, o dia que comprei aquela boneca, às vezes nem sabemos por que, uma coisa engraçada, mas cada brinquedo de nossos filhos tem um historia, cada um tem o seu drama, lembrei-me daquela boneca. Minha filha, tão parecida com a mãe, estava com sete anos, trousse o boletim dizendo ao mesmo tempo que me beijava.
-Papai, consegui, tirei todas as notas máximas, menos artes, mas você falou que artes não conta.
Coloquei a cabeça da boneca no bolso do jaleco, havia saído da farmácia, só para caminhar, os ventos e meu coração chegaram até o meu velho apartamento, onde estavam as minhas melhores memórias. Lembro quando fui a ultima vez ao hospital visitar Raquel, ela estava tão magra, depois das sucessivas infecções, quase nada restava dela, o vicio, tudo tinha contribuído para que a minha linda mulher virasse uma figura desesperada a beira da morte.
O tempo todo eu sabia do vicio dela, sabia que ela tinha crescido em um lar onde pai e mãe eram pessoas importantes, que nunca teve o carinho de nenhum deles, apenas os presentes, as festas, boas escolas, mas a presença?Se reduzia, as vezes, ao beijo de boa noite, aos treze anos começou a fumar maconha, ao quinze usava crack.
Conheci Raquel em uma festa na universidade, ela estudava sociologia, só para ficar mais perto dos fornecedores principais de drogas,que rondavam o centro de ciências humanas, e para sacanear o pai que era advogado conhecido, a mãe,que era juíza e ambos haviam estudado no mesmo centro, já não falava com a mãe muito tempo.A mãe de Raquel sempre foi uma mulher ocupada, juíza, achava que Raquel usava drogas para envergonhar a família.O dia que conheci ela estava linda de vestido,de bolinhas, com decote, parecia uma menina de dezesseis anos, sorrido para mim, um sorriso cor de céu,que de tão bonito ficou marcado para sempre como a minha lembrança principal, o meu trofeu.
-Cláudio, você é o Cláudio, o bonitão que estuda farmácia?
-Vindo de quem vem, uma princesa, sabe quantas vezes passei por você várias vezes e você nem me notou – ela sorriu novamente, o jeito mais fácil de saber que ela estava feliz, nunca sorria a toa.
-Estava bêbada, cega, ou drogada. Sabia que você é muito tímido, estou te olhando faz uns minutos, metade dos caras já teriam partido para cima logo, sabe que eu gosto dessa timidez?
Aquela noite ela bebeu demais, caiu no sofá da minha casa, carreguei ela no colo e levei para a casa dos pais, o pai dela abriu a porta.
-Essa menina!Bebida?
-Sim senhor, bebeu um pouco demais.
-Você está sóbrio? –Ajudei a colocar Raquel no sofá – Um amigo da minha filha que não usa drogas, nem bebe – ele pareceu lembrar-se de alguma coisa – já sei!Você é o estudante de farmácia, minha filha esteve de olho em você, só que acho que você tinha uma namorada.
Havia algum tempo que Raquel e pai estavam em uma fase de recuperação.Dr Lucas falou para mim que não adiantava outra abordagem, amava a filha, deixou ela sozinha tempo demais, agora queria apenas conversar, aprendi muito com ele sobre Raquel.
Magda, era a minha namorada, dois dias depois acabaria com um namoro de cinco anos.
-Você vai me deixar por uma viciada?
-O coração não escolhe,escolhe?
-Coração não escolhe  merda nenhuma, você deve estar usando drogas, nunca mais fala comigo! Cinco anos de minha vida, Claudio, quem   você pensa que é? Estala o dedo e diz, olha não quero mais, estou apaixonado por uma putinha drogada?
Ela não precisava pedir para não procurar mais, eu nem me lembrava de mais nada dela.
Quando conheci Raquel estudava farmácia, mas uma profunda depressão corroia meus dias, andava achando tudo sem sentido, mesmo meus livros, a ideia da morte parecia um caminho mais viável para aliviar o meu sofrimento, minha mãe trabalha ainda em três turnos como enfermeira, meu pai, depois de uma queda não andava nem falava, fui adotado com cinco anos, nunca conheci os meus pais biológicos,isso não tinha importância, com filho adotado achava que era um fardo para os meus pais adotivos que eram pobres.Quando fiz dezoito anos passei no vestibular e comecei a fazer o curso de farmácia, namorava com Magda, nunca havia gostado de ninguém até conhecer Raquel, nem mesmo de mim, por isso mesmo contra a vontade de sua mãe casamos um ano depois.
Raquel teve a sua primeira recaída quando o pai morreu de infarto, estava num recital de musica, nunca teve nada, todos os exames estavam normais, apenas caiu e morreu, nesse dia, ela sumiu, fiquei com minha filha, sozinhos por três dias, procurei em todos os lugares, policia hospital e até no necrotério, ela apareceu depois do terceiro dia.
-Onde você estava.
Não me respondeu, bateu a porta do quarto e ficou lá por uma semana, pegava um chocolate na geladeira e água, fumava todas as pedras de crack que conseguia comprar, vendia tudo que tínhamos em casa, nesse ano não tive um dia sequer de sossego, fui a policia duas vezes e no hospital uma dezena, minha filha com dois anos, ficava a maioria do tempo com uma babá chamada Leila.Um dia encontrei Raquel caída na porta da nossa casa, com o vestido todo rasgado.
-Claudio, me larga, leva nossa filha pra longe.
-Não vou te largar, a gente está  nessa juntos,quando um cair o outro cai– ela chorava, esta pior que os outros dias.
-Voltei a fazer programas, os caras dizem que tenho que largar você – as lagrimas nãocaiam elas sangravam pelo seu rosto,segurou o meu rosto, aquilo me chocou, acho que foi a primeira vez que fiquei realmente com raiva, minha tentação do monte das oliveiras, quando ela disse que estava fazendo programas, deixei ela no chão, fui para dentro do quarto, minhas lagrimas desciam pelo rosto, a arma que havia comprado para mim, quando ainda sofria de depressão, estava no armário, queria pegar aquela arma,dessa forma dava fim ao meu sofrimento, aquela vida sem sentido.O que poderia fazer agora?Minha filha estava em segurança com avó, peguei a arma coloquei na boca,quando ela entrou cambaleando, novamente me salvou.
-Se você tiver que atirar em alguém, atira em mim – disse aproximando  seu rosto,uma luz acendeu, havia assumido serenidade, não estava mais com o aspecto de uma droga da sarjeta,tinha um ar de quem levantou de um pesadelo, como se ela ao me ver no desespero mudasse – O amor que tenho por você, nem mesmo eu sei o que é, as vezes o demônio toma o meu corpo, mas ele não toma a minha cabeça – ela apontou para a cabeça – aqui tenho uma esperança, se você atirar,digo uma coisa para você, essa bala vai matar duas pessoas. Cláudio, com você eu tenho esperança, lá dentro,esperança.
Fui salvo,aquele dia entendi tudo o que tinha me passado até ali, num só instante,ela me salvou.Eu é que não consegui salvar Raquel, no hospital em seu ultimo dia ela me disse:
-Lembra-se daquele ano, agente teve um grande ano quando Pedro nasceu?
Pedro, nosso filho caçula, veio para unir todos, até a juíza, louca pelo neto aproximou-se da filha, resultado, um único ano,intenso e maravilhoso, vivemos em amônia , sem álcool, sem drogas, sem brigas, mostrando que tudo que as pessoas precisam é de uma chance, um único ano vale,se nele existir amor?
Aquele valeu muito, o aniversario de Pedro de um ano de vida foi tão especial que ele quadrou o momento mágico dos primeiros passos para sair correndo atrás de um balão. A premeria vez que Raquel abraçou a sua mãe, chorei, que dor,que orgulho é esse? As pessoas se amam necessitam uma das outras, mas se afastam como inimigos.
O  ano seguinte foi o que ela descobriu o câncer, morreu em julho.
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 26/09/2012
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segunda-feira, 24 de setembro de 2012




A caixa de do esqueleto


Olhei para Olavo, meu amigo da politécnica e disse.
-Olavo, se você tiver um filho e ele for para universidade, nunca deixe dividir um quarto com pessoas esquisitas.
Olavo estava ali para jogar conversa fora, sempre que era sexta à tarde a gente se encontrava naquele bar, ficava ali falando de mulher, cerveja, futebol e política, nada serio, só esquentando o banco e tomando uma gelada. O nosso grupo tinha cinco integrantes quando estava completo, mais habitualmente três, eu o Olavo e Maria Cecília, professora de português, o Olavo ensinava desenho técnico, eu, Carlos Maia, esse é meu nome de batismo, teria que ter o sobrinho na frente, pois esse também é o nome do meu tio, irmão da minha mãe, mas ficou Carlos Maia. Leciono matemática e lógica.
-Como assim? – Perguntou Olavo, quando eu já nem me lembrava do que tinha falado.
-O quê?
-Esquisito, como, doido, maconheiro, sabe lá? – Olavo era preconceituoso, gays, lésbicas, maconheiros e negros, eram  a mesma minoria chata, além das feministas, essas deveriam ir para o inferno, estavam atrapalhando a boa mulher que ia para o fogão e não perguntava onde o marido estava bebendo,não queriam saber do salário dele, nem do perfume esquisito na manga da camisa.
-Góticas, sei lá, vou te contar uma historia – quando ia começar a Maria Cecília chegou.
-Estão conversando sobre mulher, esse – apontou para o Olavo – é o maior troglodita, reacionário e homofóbico que eu conheço, além de tudo é careca. Você sabia que você é uma minoria?
Olavo para provocar superioridade masculina segundo ele, garantida pela bíblia, assoviava a musica “é dos carecas que elas gostam mais”.
-Vocês vão brigar – disse tomando mais um chope – já ia começando a contar a historia da faculdade, do tempo em que dividia o quarto com duas meninas estudantes de medicina.
-Garçom não atende mulher, chama você o garçom que estou morrendo de sede- disse Maria Cecília batendo na careca do Olavo.
O garçom, que era mineiro, todo mundo que frequentava o bar  chamava de Paraíba, trousse o chope da Maria Cecília e comecei a contar a minha historia.

O Ano 1982, o Brasil perdia a copa do mundo que deveria ter ganho, a gente estava fervilhando na universidade,livros,drogas,rock, o marxismo, de fato concreto nas vidas das pessoas e de transformação, tinha se tornado ideologia barata e programam partidário.
Carlos Maia, “meia direita” do time politécnico, jogador mediano de xadrez, me lascava no oitavo período de matemática, considerando que a minha escolha tinha sido a pior escolha profissional possível, nem tinha ideia que a matemática era tão difícil, no segundo grau parecia fácil, mas era tarde demais para desistir,cheguei ao oitavo período sem entender metade do que me ensinavam,nem pergunte com?
Meus pais moravam no interior, aluguei um apartamento de frente para universidade, mas o aluguel estava caro demais, foi quando veio à ideia de colocar um anuncio no jornal, divido quarto, preferência homens solteiros.
O Primeiro que se apresentou foi um estudante de química, mas ele fumava demais e eu tinha asma, quer dizer ainda tenho, cigarro acabaria com o meu sossego respiratório, não deu certo, depois apareceu, Marcileia, mas ela não estudava, e fazia programas, minha mãe não deixou, naquela época, conforme a conveniência eu ouvia a minha mãe. Um dia de chuva dez horas da noite bateram a campainha do apartamento, logo tive a impressão de ver duas pessoas,abri a porta apenas uma moça, vestindo preto, com olhos verdes e um rosto muito pálido apareceu.
-Tem mais alguém com você? – perguntei.
Ela riu – Todo mundo pergunta isso.
-Você veio pelo anuncio.
Ela entrou, vestia calça e blusa preta, tinha os cabelos castanhos, uma maquiagem pesada, como se tivesse ficado acordada a noite, sua pele era clara, mais que  pálida braça glacial, parecia até que ela tinha passado um pó branco,ou maquiagem, mas no final achei bonita, acho que como Olavo tenho meus preconceitos, seu sorriso era perfeito e tinha um ar misterioso.
-Estudo medicina, eu e minha irmã, estamos desesperadas, o curso acabou, precisamos de um lugar por seis meses para estudar para residência.
-Você tem uma irmã?
-Gêmea, mas não idêntica, mas as pessoas acham as duas muito parecidas uma com a outra – ela riu, achei o sorriso bonito e modificava o semblante pesado – Todo mundo acha gêmea parecida, não é?
-Você é gótica, não curto drogas, nem cigarros – olha a minha manifestação preconceituosa, que nunca consigo controlar.
-Não se preocupe, não sabe aquele ditado as aparências enganam – ela fez um gesto que demonstrava que havia se lembrado de alguma coisa – Gosto de anatomia, então trago comigo um esqueleto que estudo todas as noites, nunca se sabe talvez você se importe, talvez não se importe?
Um esqueleto, isso era legal?Uma pessoa pode, sem o consentimento legal, andar com esqueleto humano, queria perguntar isso para ela, mas fiquei hipnotizado pelo seu olhar e disse que se fosse por seis meses pra mim tudo bem, elas ficariam com a suíte e eu com quarto dos fundos, que era maior e tinha banheiro próprio.
Elas chegaram num sábado, conheci a irmã, realmente muito parecida, porém de cabelos lisos e olhos pretos, vestia-se com uma roupa leve, um vestido azul descontraído, parecia muito mais jovem e bonita, sorriu muito mais, meu coração começou a sair pela boca quando ela me falou.
- Minha irmã não me falou que você era tão bonito!
-Todo mundo me chama de Nerd cabeção, não sou bonito, meu apelido na politécnica é cálculo.
-Sei lá, acho que você tem ai uma coisa que atrai as mulheres,me diz? Quanta namorada você teve?
-Umas dez – menti, até aquele momento, sem contar com a empregada doméstica da vovó, nenhuma.
-Viu!Don Juan acho que você é bem novinho, quantos anos você tem, doze? – disse ela pegando nos meus óculos e deu uma gargalhada, me senti ofendido, depois me beijou no rosto, então me acalmei.
-Vinte, fiz em fevereiro.
Claro que dali em diante Marta a irmã clara e alegre era a minha favorita, mas eu só via Marta à noite, ela saia e sempre voltava com um cara diferente, aquilo estava me incomodando, mas ele não ficava, ia até a porta e depois de beijar Marta ia embora, não entrava, não atentava contra a moral e os bons costumes, ela entrava dizia oi, tomava uma água ia deitar, pela manhã aparecia Nívea, como se ela estivesse em uma balada na noite anterior, perguntava pela irmã ela sempre respondia.
-Aquela?Vai me dizer que você não sabe a hora que ela chegou?
Outra coisa, meu apartamento pega o sol da tarde, tinha a fama de ser quente, naqueles dias estava muito frio, um frio tão grande que eu só andava de agasalho, liguei para o vizinho do lado, Seu Onofre.
-Seu Onofre, o senhor está com frio?
-Que Pergunta é essa – seu Onofre era bombeiro aposentado, tinha mania de doença, pegou o termômetro e foi até a minha casa.
-Oh Carlos, tem alguma coisa podre dentro da geladeira – ele foi logo abrindo a minha geladeira – alguma pizza da semana passada, um feijão de sete dias, vamos rezar a missa de sétimo dia dele, esse é o cheiro mais nojento que já senti, a verdade é que parecesse que tem alguém morto aqui, isso me lembra uma vez que fui resgatar um acidente de carro que as vitimas já tinham dias de desaparecidos, aquilo era fedor, esse fedor está muito parecido, pode procurar.Meu filho, tem um bicho morto em algum lugar por aqui.
-Que cheiro o senhor tá falando seu Onofre, estou com frio.
-Frio!Você deve estar gripado – pegou o termômetro e colocou no meu braço.
-O senhor não está sentindo o frio?
-Não, só esse cheiro podre – ele foi até os dois banheiros e deu descarga – deve ser o local de respiração do bueiro, deve estar voltando tudo para cá, vou vê isso com o sindico – pegou o termômetro na minha axila e disse – não disse trinta e oito, vou te dar uma aspirina e alguns antibióticos, quando estou doente tomo logo três, eu acredito nos antibióticos, eles vão salvar o mundo.
Outro dia parei Marta, assim que ela entrou toquei o braço dela, senti aquele frio, mas não importava, estava quente por nos dois.
-Poderia conversar comigo um pouco?
Ela me olhou com ternura, meu coração começou a bater rápido novamente, Marta tinha aquele jeito de me olhar, parecia estar tão feliz com a vida, tanta vontade de viver que contagiava.
-Fala  meu amor.
-Queria sair para comer uma pizza, a gente  poderia conversar – ela olhou para o relógio.
-Agora?
-Pela manhã – ela me olhou com surpresa.
-Quem é que come pizza pela manhã, Carlos Maia, isso é coisa de Nerd que vai ficar gordo?
-Quero dizer à tarde, sei lá.
-Vou pensar – ela saiu e me beijou no rosto, a pele dela era fria, mas o contato me aqueceu.
Seu Onofre, o raio que o parta, chamou nada mais nada menos que minha mãe que despencou do interior de ônibus, com vinte malas e chegou à minha casa sem avisar.
O fofoqueiro do Onofre disse para minha mãe que tinha alguma coisa podre dentro do meu apartamento, duas mulheres vestidas de forma provocante, que ele não tinha visto nem em revista aqueles figurinos, achou que a coisa branca encima da mesa poderia não ser açúcar, o filho da Dona Fernanda era muito feio, se ela se descuidasse de mim poderia cair no mundo da perdição, ele não tinha filhos mas tinha experiência de bombeiro civil aposentado, minha mãe muito amiga do Onofre, despencou do interior e resolveu fazer uma visita de surpresa.
-Que cheiro é esse? – Disse, me beijando e ao mesmo tempo falando.
-Foi o fofoqueiro do seu Onofre, ele que ligou para a senhora?
- Não implica com Onofre, ele tem vasta experiência de bombeiro.
-Está tudo bem.Foi só uma gripe.
-Foi, mas você nunca foi tão descuidado, isso é na cozinha ou no banheiro, chamei a Cleuza pra ajudar a fazer uma faxina e colocar tudo que não presta fora, Onofre também me falou que você divide o quarto com duas moças, aqui não tem nenhuma indecência, tem Carlos?
-Olha para mim, sou cristão – disse pra minha mãe, claro que bem eu tinha vontade de que tivesse acontecido um monte de indecências – vou a igreja estou até me confessado.
-Que bom.
Nívea entrou na sala, ela estava vestindo o seu modelo negro, porem parecia menos cansada, sua face estava mais jovial, parecia liberta do peso, talvez tivesse passado na prova de residência, quem sabe?
-A senhora deve ser a mãe de Carlos?
-E você deve ser a companheira de quarto, uma delas, onde está a outra?
-Minha irmã viajou, aliás, estou de partida, viajo essa noite.
Fiquei atordoado, como partir? Elas ficariam seis meses? Só haviam se passado dois.
-Vim fazer uma faxina, o Onofre exagerou sobre o cheiro, não sinto nada – disse minha mãe indo para cozinha aproveitei para falar com Nívea.
-Você vai partir hoje? Marta não se despediu de mim, poxa eu gosto tanto dela por que a pressa?Quero ser amigo de vocês, não se preocupa com a minha mãe ela vai embora logo,é totalmente inofensiva – aposto que naquele momento estava com lagrimas nos olhos -  não tenho muitos amigos, poderiam ficar um pouco?
Nívea  olhou para cozinha calculando mentalmente a distancia entre ela e minha mãe, para ver se havia possibilidade de minha mãe escutar o que ela me falaria e disse.
 -Carlos, lembra-se da minha caixa, quero que entregue para a policia, acho que não vou precisar mais dela, você vai procurar o investigador Dalto Morais, ele já sabe do que se trata você não vai sofrer nenhuma penalidade, não se preocupe. Por favor, para o seu bem não abra a caixa.
Maria Cecília me perguntou:
-Você abriu a caixa?
-Abri.
Antes deixa terminar de contar, entreguei a caixa para o investigador, que não falou uma só palavra, depois li no jornal que ele havia confessado o crime, havia assassinado as duas irmãs.
Aquela noticia do jornal, eu não me lembro de tudo, da forma que vou contar parece caricatura, mas falando em poucas palavras, era assim:
“Investigador de policia confessou ontem assassinato de estudantes, gêmeas, que faziam o curso de medicina, as duas meninas estavam desaparecida desde agosto de 1980, filhas de um conhecido médico, que após o sumiço das duas nunca se recuperou, morrendo em seguida de um infarto do miocárdio, a surpresa é que o crime já era considerado solucionado, um andarilho de nome Pedro, havia sido preso pelo policia era tido como culpado, o delegado encarregado do caso se nega a dar entrevistas, ontem mesmo, por ordem judicial e pressão da impressa, Pedro  foi solto e o estado já pensa em uma indenização para os dias em que Pedro ficou preso, outra surpresa o investigador era amigo da família, havia crescido com as jovens, um crime brutal”.
-O que tinha na caixa?
-Apenas dois vestidos e ossos, muitos ossos.